Um conto sobre algo

Natali Carvalho
1 min readJul 18, 2022

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Quando ela entrou por aquela rua, pensou três vezes. Tudo parecia tão silencioso que foi tentador não entrar. Era escuro, mas não era frio nem quente. Embora seus pensamentos lentos, quase parando dissessem, você já foi, algo ainda a segurava.

Até que desistiu de tentar elaborar meia dúzia de pensamentos desconexos. Nada mais fazia sentido, mas há um bom tempo todas as coisas estavam bagunçadas, e inexplicavelmente, quanto mais arrumava, mais a bagunça ia se amontoando.

Para atravessar precisava empurrar ao menos quatro caixas pesadas, algumas já tão antigas que se desfarelavam e a poeira já ocupava o entorno.

Contou até três e se entregou de vez a insegurança do vazio. Poderia tentar lutar contra, mas com quais forças? Tudo já tinha se esvaído como quem tenta segurar a água.

Prometeram que as coisas seriam diferentes se ela seguisse uma lista de coisas, e, por que diabos tudo continuava igual? Não sabia dizer o porquê.

Era um buraco sem fundo. Sem fim.

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