Quinta-feira, 26 de março de 2020
Às 21:22, fumando meu último cigarro do dia
V.
Faz muito tempo que penso em te escrever, mas em todas as vezes eu desisto. Desde aquele dia no estacionamento, quando o ano estava acabando, e nós dois sozinhos, fumando cigarro, observávamos tudo em câmera lenta. Se eu tivesse forças, eu pintaria aquele momento, seria tudo num tom de amarelo-laranja. Fazia silêncio, e acho que mais ninguém, além de você soube respeitar isso. Seus olhos, seu toque, seu cheiro. Tudo é nítido e palpável para mim. Estar contigo sempre foi como um filme, vivemos coisas que eu achei que nunca viveria com mais ninguém. Os shows, as conversas, os silêncios. Existem um milhão e meio de explicações sobre o amor, e nenhuma delas traduziria o que você me fez sentir. Entre nós dois você sempre foi o melhor. E hoje mais do que nunca. Não sou uma boa pessoa neste momento, e acho que você sabe disso. Eu quero que saiba que eu tento todos os dias te escrever, e te contar que estou quebrada, e não há nada que você possa fazer. Estou enfrentando algo tão doloroso e solitário que não quero te carregar para junto disso. Espero que entenda. Quem sabe um dia, comigo não mais tão atormentada, eu possa te dividir essa dor. E mesmo se esse dia nunca chegar, saiba que eu tentei todos os dias te escrever.
Eu amo você.
P.S.: Na verdade fiquei um bom tempo criando essa imagem, acabou que eu fumei mais um, e vou pro último oficialmente agora, às 23:45
N.
