Eternamente, Ray

Essa é uma carta de despedida a uma das minhas melhores amigas, que partiu há uma semana.

Natali Carvalho
3 min readApr 17, 2022
Essa colagem tem referências de outras colagens feitas por ela. Te amo, Ray.

Eu sei sobre o tempo. E é justamente ele que tem sussurrado no meu ouvido diariamente. Quando eu reviro o caderno e te acho lá, desenhada em aquarela. Quando eu vejo algo que me faz rir, e a culpa vem, porque lembro o que aconteceu. Quando desconfio que minha memória começa falhar, e talvez você não estivesse vestindo amarelo naquele dia.

Tantas idas e vindas, cantam histórias lindas.

Sei sobre o tempo, afinal eu sei exatamente o momento que vou deixar de te ouvir, pois seu áudio se encerra. E o quanto me destrói saber que quanto mais o tempo passa, menos te tenho. Tenho medo de que seja justamente isso que me faça te perder — novamente. Sei que o tempo já levou aquela blusa que você usava que era minha, e aquele sapato que era seu que eu calçava.

Quem divide o que tem é quem vive pra sempre.

Mas são nessas armadilhas temporais que eu consigo ver que você sempre teve pressa. Por isso, me deu tudo que eu podia ter antes que seu tempo acabasse. Sempre viveu de uma forma incorrigível, tinha anseio por tudo que era vida, arte, cor e uma agonia ferrenha de continuar tentando. Foi a melhor de nós desde sempre.

Quem tem um amigo tem tudo. Se o poço devorar, ele busca no fundo.

Não precisava de nenhum tipo de reciprocidade para continuar sendo gentil. Nunca combinou com silêncio e tinha talento pra ser feliz. Conseguia transformar tudo em festa e consequentemente preencher todos os espaços com afeto. Você é um acontecimento. Prometi pra mim, que nisso de tempo, o passado não será conjugado quando você for o assunto. Você continua, justamente naquilo que eu achei que ia perder.

Logo perguntei para Oxalá e pra Nossa Senhora: em que altura você mora agora? Um dia lhe visitarei.

Tua estadia em mim é por tempo indeterminado, mesmo que nosso tchau físico tenha acontecido no domingo depois que deixei a flor. O que tem me causado espanto é que cada vez mais te sinto presente, como se estivesse me dizendo, como sempre disse: continua. Tudo tem seu jeito no mundo. Já não dividimos a beliche, mas ainda continuo ouvindo sua voz me chamando acompanhada de uma risada.

E volta como sol, cheio de luz. Inspiração rompendo a escuridão.

Sei que não foi a primeira existência que dividimos, muito menos será a última. Embora nosso futuro nesta vida tenha sido surrupiado, sei que daqui há 50 anos, o primeiro nome que me virá a cabeça quando eu pensar em amor será você, e ainda saberei que Raynna Magdyelli é sinônimo de bons tempos. Te amo, always.

Voltar pra esse plano e vamos estar voltando.

Passei muito tempo refletindo sobre a música ideal para este momento, e no fim, a minha amiga se resume em “O Bem”, por tudo que fez por mim e por tantos.

Os trechos nos intervalos dos parágrafos são desta música do Emicida.

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